Uma revolução e uma mudança de regime político devem ser entendidas a partir de duas perspetivas. Em primeiro lugar, pelos acontecimentos conjunturais simbolizados por uma data precisa de aceleração do tempo e da História. Em segundo, pela ótica das transformações mais lentas, subtis e estruturais que vão ocorrendo numa opacidade que pressiona um contexto institucional que se deve renovar e adaptar às novas realidades.
Associando-se à evocação do 50º aniversário do 25 de abril de 1974, o XVII Encontro Nacional de Riscos terá como foco a relação entre os sistemas políticos, os discursos e as práticas nos domínios dos riscos e da segurança.
No caso português, problematizar-se-ão os efeitos da democratização do regime político e das mudanças institucionais operadas em áreas como o desenvolvimento de um poder local eleito.
Na lógica de uma sociedade mais aberta, questiona-se até que ponto os espaços público e privados se abriram à discussão mais ampla e descomplexada do risco.
Da mesma forma, perante a multiplicação dos atores públicos e privados, é importante discutir os novos contextos operacionais e as inovações que resultaram desta mudança, assim como os objetivos e as expetativas não cumpridas em áreas como a proteção civil.
Nas sociedades abertas e democráticas é também necessário refletir sobre o difícil equilíbrio entre a informação ajustada a uma cultura preventiva e de segurança e o risco de contribuição para um sociedade atemorizada com o presente e o futuro.
Noutra perspetiva, e perante as tendências radicais para o confinamento das populações em redomas higienizadas, deve fazer-se o balanço entre os riscos a mitigar e os riscos necessários para o desenvolvimento de indivíduos e comunidades resilientes.
Para além disso, neste XVII Encontro Nacional de Riscos reflerir-se-á sobre um Portugal que, muito para além do momento que se celebra no próximo mês de abril, é resultado de um longo processo de transformação no sentido do envelhecimento demográfico, da urbanização, da terciarização da população e do território, assim como da exposição a um sistema internacional difuso, fluído e incerto. Todas estas derivas estruturais abrem oportunidades mas colocam também novos desafios nos domínios da segurança e dos riscos.
Sem pretender encerrar o debate no caso português, este Encontro Nacional de Riscos abre-se a todas as reflexões, em diferentes geografias, que cruzem os sistemas políticos, as culturas de segurança e as formas de pensar, comunicar e mitigar os riscos.